A homenagem de Jacques-Alain Miller a Jacques Lacan, em 2011, ao se completarem 30 anos de seu desaparecimento e após 30 anos de seu ensino, confronta os analistas com seu desejo de fazer prevalecer a Vida de Lacan, a escrita de uma trajetória de relação com o inconsciente da qual se extrai uma lição essencial à prática da análise no mundo contemporâneo. Assim, celebrar essa obra é, também, celebrar a invenção do passe e sua contribuição para o futuro da psicanálise.
Ana Lydia Santiago - A.E . da EBP/AMP .
Lacan nos ensinou que o discurso analítico só existe se for sustentado e foi para isso que ele fundou a sua Escola. A herança que ele nos deixa é essa aposta, da qual nos encarregamos trinta anos após a sua morte. Cabe à nossa Escola não permitir que a psicanálise se reduza a ser, no século XXI, um problema de civilização.
Cristina Drummond - Diretora Geral da EBP .
Lacan: um homem contemporâneo. Para provar o arbitrário da língua, partiu da Linguística. Para provar que o inconsciente pensa, usou Matemática e Lógica. Para provar que herdamos, além de genes, também gostos, maneiras, tradições, recorreu à Antropologia e, para o grande debate sobre o homem e o mundo, teve longas conversas com Kant, Hegel, Heidegger, sem esquecer os antigos. Luzes e mais luzes na Psicanálise.
Jorge Forbes - A.M.E. da EBP/ AMP .
Não tive o privilégio de ter assistido a uma aula de Jacques Lacan, seja um de seus Seminários ou mesmo uma apresentação de pacientes; portanto, faz-se ainda mais importante mostrar, agora que transcorreram 30 anos desde seu desaparecimento, o quanto ainda está vivo entre nós, o que só pode ser resultado da leitura dos Seminários, estabelecidos por Jacques-Alain Miller, ou das coletâneas, Escritos e Outros Escritos, dos quais Miller foi o organizador, em 1966 e em 2001 respectivamente. Cabe ainda perguntar se esse esforço de poesia de um, ajuda a manter viva a psicanálise de Lacan e seu ensino.
Angelina Harari - A.E. da EBP/ AMP . |
Quarta-feira, 28 de setembro, dia do Seminário da diretoria da EBP-SP, que discute no semestre “A Obra de Lacan”, o Seminário da Orientação Lacaniana apresentado por Jacques-Alain Miller em Paris. Luiz Fernando Carrijo da Cunha teceu comentários sobre a aula 9, com a coordenação de Maria do Carmo Dias Batista.
O curso, "A Obra de Lacan", discute a posição dos analistas na Escola e em sua relação com a Psicanálise.
Miller termina a aula 8 trabalhando “o real é sem lei” e inicia o Seminário do dia 30 de março de 2011, dizendo que se trata do real na experiência analítica.
Os presentes ao Seminário ouviram a viva exposição do texto e tiveram oportunidade de participar na discussão.
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Scilicet desenvolve termos clínicos ligados à episteme lacaniana, algo como um dicionário de conceitos, destacando, na psicanálise, o lugar da política do inconsciente. A próxima Scilicet aborda verbetes ligados ao tema do VIII Congresso da AMP – O Simbólico no Século XXI – que acontecerá em Buenos Aires, de 23 a 27 de abril de 2012.
Em 22 de setembro de 2011 a EBP-SP promoveu a segunda Noite Scilicet para discutir os verbetes Verdade-Mentira, por Angelina Harari (AE, membro da EBP-AMP) e Espetáculo, por Jorge Forbes (AME, membro da EBP-AMP). O debate com os autores contou com a presença de Marie-Hélène Brousse (AME pela ECF e AMP).
Para Angelina, Oscar Wilde antecipou através da literatura, a proposta da psicanálise sobre a verdade mentirosa, ao conceber a arte como mentira. Em seu ensaio Declínio da Mentira ele diz que “narrar não consiste em reproduzir a realidade, mas em mentir sobre a realidade”. A verdade mentirosa faz aliança da verdade com a mentira, apontando de forma radical que a própria verdade é uma mentira, disse Angelina citando Miller.
Essa aliança remete à questão do passe e à historisterização da análise, concluindo que as verdades em psicanálise são variáveis (varidade, segundo Lacan) e que a verdade tem estrutura de ficção. O passe não é a revelação de uma verdade, mas a revelação de que a verdade é mentirosa. Se antes o passe era pensado como regido pelo saber (Inconsciente como lugar da verdade) temos agora a “ficção de passe”, o passe regido pela ordem da verdade (Inconsciente como um saber inscrito no Real), daí verdade-mentira, concluiu Angelina.
Forbes com Espetáculo, relembrou que esse é um termo caro à psicanálise; Freud já se referia a “uma outra cena” (o Inconsciente) e Lacan, com o trabalho sobre o Espelho inicia-se na psicanálise estudando o espetáculo. Assim os estudos de Freud e de Lacan destacam que o ser humano se compreende ou se realiza quando colocado em cena, no espetáculo, em confronto com o outro.
Vivemos na sociedade do espetáculo, passando de uma sociedade industrial (laço social vertical) e padronizada em todos os níveis, com cenas fixas e explicações prêt-à-porter, para uma sociedade globalizada (laço social horizontal) da era da informação. Se antes o Imaginário era submetido às leis compreensivas do registro do Simbólico, hoje o “Imaginário associa-se diretamente ao Real, sem intermediação simbólica”. O mundo atual oferece duas opções: ser genérico, igual a todo mundo, ou, ser espetáculo, tendo que inventar e responsabilizar-se pela forma de estar no mundo: IR - Invenção e Responsabilidade.
Quanto ao passe, Forbes acentuou que este é atualmente mais uma questão de “monstração” (e não demonstração) de como não mais buscar a referência no outro e, sim, de suportar o impacto e a surpresa do que aparece como novo e sem significado pré-estabelecido, intimamente ligado ao sentido de um gozo e soluções singulares para a própria vida.
Marie–Hélène Brousse ressaltou um ponto da epistemologia lacaniana presente nos dois textos: o estatuto da representação na prática da psicanálise, afirmando que Lacan, no final de seu ensino, considerava que a representação só existia pela metáfora, pela substituição e que todas as metáforas comportam um efeito de verdade. Ela retomou a ideia da verdade com estrutura de ficção, pois ao escutar uma pessoa, estamos diante da verdade mentirosa – é tudo verdade e é tudo mentira - este é um fato de discurso. A demanda está presente na verdade mentirosa e isso também se articula com o passe, sendo que o operador da verdade na análise é o modo de gozo do sujeito, lembrando que a angústia não mente, não engana.
Não existem muitas atividades como a psicanálise, disse ela. A psicanálise é um dispositivo de relato de improvisação e de performance - o analisante e o analista não sabem o que vai acontecer e nem quanto tempo irá durar.
Em uma análise o sujeito irá construir sua vida como um relato e será o herói dessa história, mas não um herói trágico. Trata-se de uma vida modesta que se torna, graças à performance da análise, uma história. Essa é a especificidade da psicanálise. Não se pode fazer isso com a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que propõe uma repetição e não uma invenção. Na realidade, a gente se inventa e no passe também se inventa com o outro, finalizou Marie-Hélène Brousse.
Marizilda Paulino
Membro da EBP e AMP
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- No dia 23 de setembro fez 72 anos da morte de Freud, cujo legado mudou a forma de dizermos o mundo; desfrutamos a partir do projeto de Lacan, “de um retorno a Freud” e “o sentido de um retorno a Freud é um retorno ao sentido de Freud”. (LACAN, A Coisa Freudiana)
- A AMP está fazendo circular “Lacan Cotidiano”, jornal diário on-line com posicionamentos e notícias da Psicanálise Lacaniana no mundo. Os “cotidianos” traduzidos estão acessíveis no Blog da EBP-SP: www.ebp-sp.blogspot.com.
- Psicanalistas do mundo inteiro estão se mobilizando em prol da libertação de Rafah Nached, psicanalista formada na França e presa dia 10 de setembro na Síria, quando embarcava para Paris, em visita à filha que está por dar à luz. Rafah tem 66 anos e problemas de coração. A EBP, por iniciativa de sua Presidente Ana Lydia Santiago, promove uma twittada em favor da libertação de Rafah. |
BOLETIM DAS JORNADAS 2011 – EBP-SP
O GOZO FEMININO NO SÉCULO XXI
25/26 de novembro - Convidada: Graciela Brodsky
A Comissão Científica receberá os trabalhos situados nos eixos seguintes:
- O não-todo e o gozo
- A fluidez dos semblantes no século XXI
- Ciência, religião e o feminino no discurso hipermoderno
Os trabalhos deverão ser apresentados no seguinte formato:
letra arial 11, máximo de 4000 caracteres, incluindo espaços e referências bibliográficas; espaço entre as linhas 1,5; notas e referências bibliográficas devem estar listadas ao final do trabalho.
Data final para entrega: 26 de outubro de 2011.
Enviar para os e-mails: lfcarrijo@gmail.com e marizildapaulino@uol.com.br.
NSCRIÇÕES
Enviar comprovante de depósito por fax [11 3063-1626]
ou e-mail [ebpsp@uol.com.br] aos cuidados de Anselmo
Banco Itaú – Agência 0188 – Conta Corrente 65666-4
Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo
Obs: É possível dividir em duas vezes até 10 de outubro; depois, somente à vista.
VALORES
- R$ 250,00 - Membros e Profissionais
- R$ 150,00 - Estudantes
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