"A realidade é abordada com os aparelhos do gozo." Aí está mais uma fórmula que lhes proponho, se é que podemos convir que, aparelho, não há outro senão a linguagem. É assim que, no ser falante, o gozo é aparelhado. (LACAN, J. Seminário 20, Mais Ainda, 75)

EDITORIAL

Esse número da Carta de São Paulo On-line é uma homenagem que prestamos a Lacan nos 30 anos de sua morte. Dois de seus livros são lançados nesse momento, além de A Vida de Lacan, de Jacques-Alain Miller. Alguns de nossos colegas comentam, em poucas palavras, mas de forma contundente, como sua obra se mantém viva, assim como sua capacidade de nos mobilizar frente ao mundo contemporâneo.
Rômulo Ferreira da Silva - A.M.E. da EBP/ AMP.


A homenagem de Jacques-Alain Miller a Jacques Lacan, em 2011, ao se completarem 30 anos de seu desaparecimento e após 30 anos de seu ensino, confronta os analistas com seu desejo de fazer prevalecer a Vida de Lacan, a escrita de uma trajetória de relação com o inconsciente da qual se extrai uma lição essencial à prática da análise no mundo contemporâneo. Assim, celebrar essa obra é, também, celebrar a invenção do passe e sua contribuição para o futuro da psicanálise.
Ana Lydia Santiago - A.E . da EBP/AMP .


Lacan nos ensinou que o discurso analítico só existe se for sustentado e foi para isso que ele fundou a sua Escola. A herança que ele nos deixa é essa aposta, da qual nos encarregamos trinta anos após a sua morte. Cabe à nossa Escola não permitir que a psicanálise se reduza a ser, no século XXI, um problema de civilização.
Cristina Drummond - Diretora Geral da EBP .


Lacan: um homem contemporâneo. Para provar o arbitrário da língua, partiu da Linguística. Para provar que o inconsciente pensa, usou Matemática e Lógica. Para provar que herdamos, além de genes, também gostos, maneiras, tradições, recorreu à Antropologia e, para o grande debate sobre o homem e o mundo, teve longas conversas com Kant, Hegel, Heidegger, sem esquecer os antigos. Luzes e mais luzes na Psicanálise.
Jorge Forbes - A.M.E. da EBP/ AMP .


Não tive o privilégio de ter assistido a uma aula de Jacques Lacan, seja um de seus Seminários ou mesmo uma apresentação de pacientes; portanto, faz-se ainda mais importante mostrar, agora que transcorreram 30 anos desde seu desaparecimento, o quanto ainda está vivo entre nós, o que só pode ser resultado da leitura dos Seminários, estabelecidos por Jacques-Alain Miller, ou das coletâneas, Escritos e Outros Escritos, dos quais Miller foi o organizador, em 1966 e em 2001 respectivamente. Cabe ainda perguntar se esse esforço de poesia de um, ajuda a manter viva a psicanálise de Lacan e seu ensino.
Angelina Harari - A.E. da EBP/ AMP .

SEMINÁRIO DA DIRETORIA

Quarta-feira, 28 de setembro, dia do Seminário da diretoria da EBP-SP, que discute no semestre “A Obra de Lacan”, o Seminário da Orientação Lacaniana apresentado por Jacques-Alain Miller em Paris. Luiz Fernando Carrijo da Cunha teceu comentários sobre a aula 9, com a coordenação de Maria do Carmo Dias Batista.

O curso, "A Obra de Lacan",  discute a posição dos analistas na Escola e em sua relação com a Psicanálise.

Miller termina a aula 8 trabalhando “o real é sem lei” e inicia o Seminário do dia 30 de março de 2011, dizendo que se trata do real na experiência analítica.

Os presentes ao Seminário ouviram a viva exposição do texto e tiveram oportunidade de participar na discussão.

SCILICET

Scilicet desenvolve termos clínicos ligados à episteme lacaniana, algo como um dicionário de conceitos, destacando, na psicanálise, o lugar da política do inconsciente. A próxima Scilicet aborda verbetes ligados ao tema do VIII Congresso da AMP – O Simbólico no Século XXI – que acontecerá em Buenos Aires, de 23 a 27 de abril de 2012.

Em 22 de setembro de 2011 a EBP-SP promoveu a segunda Noite Scilicet para discutir os verbetes Verdade-Mentira, por Angelina Harari (AE, membro da EBP-AMP) e Espetáculo, por Jorge Forbes (AME, membro da EBP-AMP). O debate com os autores contou com a presença de Marie-Hélène Brousse (AME pela ECF e AMP).
Para Angelina, Oscar Wilde antecipou através da literatura, a proposta da psicanálise sobre a verdade mentirosa, ao conceber a arte como mentira. Em seu ensaio Declínio da Mentira ele diz que “narrar não consiste em reproduzir a realidade, mas em mentir sobre a realidade”. A verdade mentirosa faz aliança da verdade com a mentira, apontando de forma radical que a própria verdade é uma mentira, disse Angelina citando Miller.
Essa aliança remete à questão do passe e à historisterização da análise, concluindo que as verdades em psicanálise são variáveis (varidade, segundo Lacan) e que a verdade tem estrutura de ficção. O passe não é a revelação de uma verdade, mas a revelação de que a verdade é mentirosa. Se antes o passe era pensado como regido pelo saber (Inconsciente como lugar da verdade) temos agora a “ficção de passe”, o passe regido pela ordem da verdade (Inconsciente como um saber inscrito no Real), daí verdade-mentira, concluiu Angelina.
Forbes com Espetáculo, relembrou que esse é um termo caro à psicanálise; Freud já se referia a “uma outra cena” (o Inconsciente) e Lacan, com o trabalho sobre o Espelho inicia-se na psicanálise estudando o espetáculo. Assim os estudos de Freud e de Lacan destacam que o ser humano se compreende ou se realiza quando colocado em cena, no espetáculo, em confronto com o outro.
Vivemos na sociedade do espetáculo, passando de uma sociedade industrial (laço social vertical) e padronizada em todos os níveis, com cenas fixas e explicações prêt-à-porter, para uma sociedade globalizada (laço social horizontal) da era da informação. Se antes o Imaginário era submetido às leis compreensivas do registro do Simbólico, hoje o “Imaginário associa-se diretamente ao Real, sem intermediação simbólica”. O mundo atual oferece duas opções: ser genérico, igual a todo mundo, ou, ser espetáculo, tendo que inventar e responsabilizar-se pela forma de estar no mundo: IR - Invenção e Responsabilidade.
Quanto ao passe, Forbes acentuou que este é atualmente mais uma questão de “monstração” (e não demonstração) de como não mais buscar a referência no outro e, sim, de suportar o impacto e a surpresa do que aparece como novo e sem significado pré-estabelecido, intimamente ligado ao sentido de um gozo e soluções singulares para a própria vida.
Marie–Hélène Brousse ressaltou um ponto da epistemologia lacaniana presente nos dois textos: o estatuto da representação na prática da psicanálise, afirmando que Lacan, no final de seu ensino, considerava que a representação só existia pela metáfora, pela substituição e que todas as metáforas comportam um efeito de verdade. Ela retomou a ideia da verdade com estrutura de ficção, pois ao escutar uma pessoa, estamos diante da verdade mentirosa – é tudo verdade e é tudo mentira - este é um fato de discurso. A demanda está presente na verdade mentirosa e isso também se articula com o passe, sendo que o operador da verdade na análise é o modo de gozo do sujeito, lembrando que a angústia não mente, não engana.
Não existem muitas atividades como a psicanálise, disse ela. A psicanálise é um dispositivo de relato de improvisação e de performance - o analisante e o analista não sabem o que vai acontecer e nem quanto tempo irá durar.
Em uma análise o sujeito irá construir sua vida como um relato e será o herói dessa história, mas não um herói trágico. Trata-se de uma vida modesta que se torna, graças à performance da análise, uma história. Essa é a especificidade da psicanálise. Não se pode fazer isso com a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que propõe uma repetição e não uma invenção. Na realidade, a gente se inventa e no passe também se inventa com o outro, finalizou Marie-Hélène Brousse.
Marizilda Paulino
Membro da EBP e AMP

ECOS DO MUNDO

- No dia 23 de setembro fez 72 anos da morte de Freud, cujo legado mudou a forma de dizermos o mundo; desfrutamos a partir do projeto de Lacan, “de um retorno a Freud” e “o sentido de um retorno a Freud é um retorno ao sentido de Freud”. (LACAN, A Coisa Freudiana)

- A AMP está fazendo circular “Lacan Cotidiano”, jornal diário on-line com posicionamentos e notícias da Psicanálise Lacaniana no mundo. Os “cotidianos” traduzidos estão acessíveis no Blog da EBP-SP: www.ebp-sp.blogspot.com.

- Psicanalistas do mundo inteiro estão se mobilizando em prol da libertação de Rafah Nached, psicanalista formada na França e presa dia 10 de setembro na Síria, quando embarcava para Paris, em visita à filha que está por dar à luz. Rafah tem 66 anos e problemas de coração. A EBP, por iniciativa de sua Presidente Ana Lydia Santiago, promove uma twittada em favor da libertação de Rafah.

JORNADAS 2011 – EBP-SP

BOLETIM DAS JORNADAS 2011 – EBP-SP
O GOZO FEMININO NO SÉCULO XXI
25/26 de novembro - Convidada: Graciela Brodsky

A Comissão Científica receberá os trabalhos situados nos eixos seguintes:

  • O não-todo e o gozo
  • A fluidez dos semblantes no século XXI
  • Ciência, religião e o feminino no discurso hipermoderno

Os trabalhos deverão ser apresentados no seguinte formato:
letra arial 11, máximo de 4000 caracteres, incluindo espaços e referências bibliográficas; espaço entre as linhas 1,5; notas e referências bibliográficas devem estar listadas ao final do trabalho.
Data final para entrega: 26 de outubro de 2011.
Enviar para os e-mails: lfcarrijo@gmail.com e marizildapaulino@uol.com.br.

NSCRIÇÕES
Enviar comprovante de depósito por fax [11 3063-1626] ou e-mail [ebpsp@uol.com.br] aos cuidados de Anselmo
Banco Itaú – Agência 0188 – Conta Corrente 65666-4
Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo
Obs: É possível dividir em duas vezes até 10 de outubro; depois, somente à vista.

VALORES

  • R$ 250,00 - Membros e Profissionais
  • R$ 150,00 - Estudantes

“Que se diga fica esquecido detrás do que se diz no que se ouve."
No entanto, é pelas consequências do dito que se julga o dizer.
Mas o que se faz do dito resta aberto.” (S. 20, Mais Ainda, 26)

Editora: Bernadette Pitteri - Revisora: Daniela Affonso

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Carta de São Paulo Online - 006